Avançar para o conteúdo principal

Reforma do Estado e IRC arrancam ao mesmo tempo: Janeiro 2014

Governo não fala em baixa fiscal, apenas em impostos "mais competitivos". O próximo ano será muito complicado

"Será um exercício em simultâneo": a reforma global do IRC só vai ser aplicada quando entrar em força a reforma do Estado - e o corte de 4 mil milhões. O momento está marcado: 1 de janeiro de 2014, primeiro dia do próximo Orçamento do Estado.

"Se as duas reformas não estivessem ligadas, se não fosse um exercício em simultâneo, seria mais difícil concretizá-las", garantiu esta semana Paulo Núncio, na apresentação das linhas gerais da reforma do IRC, que teve lugar na Associação Comercial de Lisboa. "Sem uma redução do défice seria difícil concretizar a reforma dos impostos sobre as empresas. Núncio não deu novidades sobre a reforma do IRC - que corre com a comissão liderada por Lobo Xavier - nem se comprometeu com baixas fiscais, preferindo falar num "regime mais competitivo".

A isso acrescentou mais duas prioridades - diminuir a burocracia sobre as empresas e trabalhar nos acordos bilaterais com outros países - , mas sobre o IRC a 10% para novos investimentos, uma ideia avançada por Álvaro Santos Pereira, nem uma palavra. Apesar de o Ministério da Economia garantir que as últimas negociações com Bruxelas ultrapassaram as dúvidas sobre este apoio do Estado, as Finanças preferem esperar pelas conclusões da comissão, que produz um relatório final em outubro. Até lá, os novos investimentos terão de esperar. Em 2012, o investimento das empresas caiu mais de 26%, com as pequenas e médias a cortarem 40% nos planos. Na versão final da proposta de IRC a 10%, todos os novos investimentos seriam contemplados com uma baixa fiscal.


O ano mais difícil:

O Orçamento para 2014 promete, ser o mais complicado dos últimos anos. E por quatro razões. Primeiro: a redução do défice, que cai de 4,5% em 2013 para 3% no ano seguinte, o que implicará um novo corte de quase 2,5 mil milhões de euros nas contas do Estado.

Segundo: porque algumas das medidas mais emblemáticas de 2012 - como a contribuição especial de solidariedade, que ainda espera pelo Tribunal Constitucional - são temporárias, não transitam para o próximo ano e terão de ser compensadas por outras alternativas.

Terceiro: a recessão prevista para 2013 (o PIB vai recuar 1,9% este ano, segundo o Banco de Portugal) fará uma pressão acrescida sobre as receitas fiscais, não dando margem (ver mais aqui) para uma baixa fiscal a um ano das legislativas. 2014 será também o ano em que Portugal regressa, efetivamente, aos mercados, depois de receber a última tranche do empréstimo da troika (2,8 mil milhões), em julho desse ano. "Cumprimos metade do programa de ajustamento económico, por isso é apropriado discutir a saída do programa e a recuperação do acesso aos mercados", insistiu na quarta-feira Vítor Gaspar.

Mas este regresso aos mercados não significa uma baixa na fatura dos juros, já que a dívida pública acumulada continuará a subir até 2014, atingindo os 124,3% do PIB - e só começando a descer em 2015. A reforma do Estado também coincide com o pior ano (nos próximos 20) em encargos do Estado com as parcerias público-privadas. Só em 2014, e apesar do esforço para renegociar contratos, o Estado terá de pagar 1,5 mil milhões às concessionárias.

Com todas estas variáveis, a alternativa é um corte brutal na despesa do Estado. "Não teremos trajetória sustentável para a dívida pública se não conseguirmos baixar a fatura do Estado", garantiu ontem Pedro Passos Coelho. As primeiras novidades no corte de 4 mil milhões chegam já este mês.


Em: http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO097075.html?page=0

Comentários

Notícias mais vistas:

Habitação a custos controlados: novas medidas do Governo

 O Governo ajustou as regras da habitação a custos controlados para refletir os aumentos nos custos de construção e atrair mais promotores Com os custos de construção, energia e terrenos a subir nos últimos anos, muitos projetos de habitação acessível deixaram de ser viáveis. Para dar resposta a esta realidade, o Governo decidiu atualizar as regras da habitação a custos controlados, ajustando os limites de custo e tornando o regime mais atrativo para quem quer construir ou reabilitar casas com preços mais baixos. A medida foi publicada na Portaria n.º 265/2025/1 e entra em vigor já este mês. Esta é a terceira revisão da legislação original, criada em 2019, e tem como objetivo adaptar o regime à nova realidade do mercado. O que muda? A principal alteração está na forma como se calcula o custo de promoção (CP) por metro quadrado — ou seja, quanto pode custar a construção de uma casa ao abrigo deste regime. A fórmula foi atualizada para ter em conta: O aumento dos custos de construção...

Condomínio condenado a pagar 450 mil euros pela morte de três alunos esmagados por um muro em Braga

 A Câmara de Braga, que também era ré no processo, foi absolvida. O muro em questão era uma estrutura que, desde 1996, acolhera as caixas de correio de um prédio ali existente, mas que, em 2012, deixou de ter qualquer utilidade. A administração do condomínio tinha sido alertada para o estado de degradação O Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga fixou em 150 mil euros o valor da indemnização a pagar aos pais de cada um dos três estudantes da Universidade do Minho que morreram esmagados por um muro, em 2014. Por sentença de 18 de junho, a que a Lusa teve acesso esta quinta-feira e que surge mais de um ano depois do início do julgamento, o tribunal determinou que a indemnização seja paga pela empresa administradora de condomínio responsável pela construção, sem licenciamento camarário, do referido muro, para acolher as caixas de correio de um prédio. O pagamento será assegurado pelo condomínio e respetivas seguradoras. A Câmara de Braga, que também era ré no processo, foi absolvid...

A Tesla está com mais problemas do que se pensa

Homem mais rico do mundo foi o maior apoiante do presidente dos Estados Unidos. Agora está com problemas Os problemas da Tesla vão muito para além da recente discussão entre o CEO Elon Musk e o presidente Donald Trump, que acusou o antigo “primeiro amigo” de estar “completamente ‘fora dos carris’” numa luta de bofetadas nas redes sociais durante o fim de semana. Mas enquanto as batalhas entre Musk e Trump estão a receber toda a atenção, as perspectivas para as receitas e os resultados da Tesla pioraram consideravelmente. E a empresa pode até voltar a perder dinheiro, por razões não relacionadas com a política pessoal de Musk. Musk foi o maior apoiante financeiro de Trump durante a campanha de 2024, e foi um dos pilares de Mar-a-Lago e da Casa Branca no início do segundo mandato de Trump, com o seu papel na redução da força de trabalho federal no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Mas Musk anunciou desde então que estava a criar um novo partido político devido ao seu desco...