Trinta anos depois do acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, continuam a aparecer vestígios de radiação nos locais mais inesperados. Desta vez, foram detectados elevados índices de radiação nos javalis selvagens que vagueiam nas florestas e montanhas da República Checa – a 1600 km da central nuclear.
A República Checa enfrenta este inverno um problema invulgar com a sua carne de javali, ingrediente principal da sua iguaria nacional. Os javalis estão radioactivos.
Segundo a agência Reuters, a súbita radioactividade registada nos javalis checos é devida à dieta alimentar a que foram forçados este ano. Um inverno invulgarmente frio e nevoso obrigou os javalis a comer uma espécie de cogumelos subterrâneos comum nos montes Sumava, situados entre a República Checa, Alemanha e Áustria.
Estes fungos absorvem elevadas concentrações de césio-137, isótopo radioactivo libertado em grandes quantidades há quase 31 anos durante a catástrofe de 26 de abril de 1986 em Chernobyl – que, aparentemente, vagueou na atmosfera até chegar aos montes Sumava, onde foi absorvido pelos referidos cogumelos.
“Este inverno, forçados a comer os cogumelos radioactivos, os javalis ingeriram césio-137 e ficaram com a sua carne radioactiva também”, explica à Reuters Jiri Drapal, responsável da Administração Veterinária Estatal do país.
“É um problema mais ou menos sazonal”, diz Drapal.
Mas, infelizmente, a época vai ser muito longa. A meia-vida do césio-137, isto é, o tempo que leva a radioactividade de uma dada quantidade de césio-137 a ficar reduzida a metade, é de cerca de 30 anos. E depois, mais 30 para se reduzir a 25%…
Ou seja, daqui a 100 anos, os javalis dos montes Sumava não estarão propriamente a brilhar no escuro, mas ainda terão cerca de 10% dos níveis de radioactividade que apresentam hoje.
Não é a primeira vez que são encontrados elevados níveis de radiação em javalis. Em 2014, um em cada três javalis selvagens das florestas da Saxónia, na Alemanha, apresentavam elevados níveis de radiação. Segundo o The Telegraph, também neste caso a radioactividade foi um legado de Chernobyl.
Em abril do ano passado, havia javalis selvagens radioactivos à solta em todo o norte do Japão, contaminados pelo desastre de Fukushima.
Mas o problema, na República Checa, é que o javali é um dos pratos mais populares no país, onde aparece como ingrediente principal em inúmeras receitas tradicionais – nomeadamente no goulash, o famoso guisado de carne e vegetais com paprika.
Um pouco de césio-137 não transforma os javalis em leitões ninja mutantes adolescentes… mas tampouco os deixa propriamente saborosos.
Mas segundo Jiri Drapal, todos os javalis (e quaisquer outros animais) abatidos para consumo são analisados, e os que apresentam radioactividade são excluídos, pelo que o goulash checo continua a ser completamente seguro.
Além disso, diz Drapal, “teríamos que comer javali radioactivo várias vezes por semana, durante uns quantos meses, até começarmos e sentir-nos doentes“.
E para compensar, pelo menos deixávamos de ter necessidade de lavar os dentes.
http://zap.aeiou.pt/30-anos-depois-de-chernobyl-os-javalis-da-europa-central-estao-radioactivos-150535
A República Checa enfrenta este inverno um problema invulgar com a sua carne de javali, ingrediente principal da sua iguaria nacional. Os javalis estão radioactivos.
Segundo a agência Reuters, a súbita radioactividade registada nos javalis checos é devida à dieta alimentar a que foram forçados este ano. Um inverno invulgarmente frio e nevoso obrigou os javalis a comer uma espécie de cogumelos subterrâneos comum nos montes Sumava, situados entre a República Checa, Alemanha e Áustria.
Estes fungos absorvem elevadas concentrações de césio-137, isótopo radioactivo libertado em grandes quantidades há quase 31 anos durante a catástrofe de 26 de abril de 1986 em Chernobyl – que, aparentemente, vagueou na atmosfera até chegar aos montes Sumava, onde foi absorvido pelos referidos cogumelos.
“Este inverno, forçados a comer os cogumelos radioactivos, os javalis ingeriram césio-137 e ficaram com a sua carne radioactiva também”, explica à Reuters Jiri Drapal, responsável da Administração Veterinária Estatal do país.
“É um problema mais ou menos sazonal”, diz Drapal.
Mas, infelizmente, a época vai ser muito longa. A meia-vida do césio-137, isto é, o tempo que leva a radioactividade de uma dada quantidade de césio-137 a ficar reduzida a metade, é de cerca de 30 anos. E depois, mais 30 para se reduzir a 25%…
Ou seja, daqui a 100 anos, os javalis dos montes Sumava não estarão propriamente a brilhar no escuro, mas ainda terão cerca de 10% dos níveis de radioactividade que apresentam hoje.
Não é a primeira vez que são encontrados elevados níveis de radiação em javalis. Em 2014, um em cada três javalis selvagens das florestas da Saxónia, na Alemanha, apresentavam elevados níveis de radiação. Segundo o The Telegraph, também neste caso a radioactividade foi um legado de Chernobyl.
Em abril do ano passado, havia javalis selvagens radioactivos à solta em todo o norte do Japão, contaminados pelo desastre de Fukushima.
Mas o problema, na República Checa, é que o javali é um dos pratos mais populares no país, onde aparece como ingrediente principal em inúmeras receitas tradicionais – nomeadamente no goulash, o famoso guisado de carne e vegetais com paprika.
Um pouco de césio-137 não transforma os javalis em leitões ninja mutantes adolescentes… mas tampouco os deixa propriamente saborosos.
Mas segundo Jiri Drapal, todos os javalis (e quaisquer outros animais) abatidos para consumo são analisados, e os que apresentam radioactividade são excluídos, pelo que o goulash checo continua a ser completamente seguro.
Além disso, diz Drapal, “teríamos que comer javali radioactivo várias vezes por semana, durante uns quantos meses, até começarmos e sentir-nos doentes“.
E para compensar, pelo menos deixávamos de ter necessidade de lavar os dentes.
http://zap.aeiou.pt/30-anos-depois-de-chernobyl-os-javalis-da-europa-central-estao-radioactivos-150535
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