Avançar para o conteúdo principal

Fisco começa a receber dados sobre saldo das contas bancárias em 2019

Marcelo já admite luz verde ao diploma. Autoridade tributária tem de assegurar segurança reforçada dos dados.

A AT já recebe informação sobre os cidadãos não residentes com contas em Portugal.

A nova proposta do Governo para obrigar os bancos portugueses a comunicarem ao fisco o saldo dos depósitos dos clientes (quando o valor é superior a 50 mil euros) prevê que essa troca automática arranque em 2019. Se a medida receber a luz verde do Presidente da República, como Marcelo já admitiu, os bancos terão até ao final de Julho do próximo ano para enviarem os ficheiros à autoridade tributária, indicando quanto é que os clientes tinham depositado no banco a 31 de Dezembro de 2018, segundo esclareceu ao PÚBLICO fonte oficial das Finanças.

O fisco já recebe informação semelhante sobre os cidadãos não residentes em Portugal que aqui têm contas bancárias, porque é obrigado a transmitir esses dados às outras administrações fiscais europeias e de alguns países da OCDE, recebendo em troca informação sobre os saldos bancários dos cidadãos residentes fiscais em Portugal que têm contas bancárias no estrangeiro.

A novidade tem a ver com os dados dos clientes bancários que são residentes em Portugal, que o Governo defende ser importante por permitir conhecer o património financeiro dos contribuintes. Uma das razões para o Governo ter proposto em 2016 esta medida, vetada por Marcelo, foi a de que não existia justificação para o fisco ter menos informação sobre os clientes residentes em Portugal do que aquela que tem de enviar às outras administrações fiscais (a relativa às contas detidas em Portugal por não residentes).

Centeno apareceu esta quinta-feira na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros para recordar que o fisco “não vai ter acesso às contas” nem aos movimentos bancários, mas sim ao valor do saldo. A informação que os bancos têm de fazer chegar ao fisco diz respeito ao valor que uma pessoa tem depositado no banco no final de cada ano, se esse saldo for superior a 50 mil euros.

Tal como acontece com os dados que já recebe dos bancos, também em relação a este novo enorme manancial de informação o fisco terá de garantir que aplica as “medidas especiais de segurança” da lei de protecção de dados. Isso inclui, por exemplo, que haja controlo de acesso aos dados (os funcionários do fisco têm de ter autorização para conhecer essa informação); que só pessoas autorizadas entrem nas instalações usadas para tratar os ficheiros; que não seja possível que os “sistemas de tratamento automatizados de dados possam ser utilizados por pessoas não autorizadas”; ou que o fisco impeça que os dados, ao serem transmitidos ou transportados, sejam “lidos, copiados, alterados ou eliminados de forma não autorizada”.

Decisões rápidas
O Governo não demorou a agir depois de ver Marcelo recordar na quarta-feira que a principal razão que o levou a vetar esta medida há um ano e meio foi a “situação particularmente grave vivida então pela banca portuguesa”. Foi o BE quem levantou o tema no debate quinzenal de quarta-feira, com a líder do BE, Catarina Martins, a desafiar Costa a vir a jogo. E se Marcelo não tardou a abrir a porta à medida, lembrando poucas horas depois que o seu veto de 2016 foi principalmente decidido para não prejudicar a estabilização do sistema financeiro, em menos de 24 horas o Governo pôs a medida em cima da mesa. Uma sucessão repentina de acontecimentos, ainda que há dois meses o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, garantisse em entrevista ao PÚBLICO que não estava então a trabalhar nesta medida.

Quando em Setembro de 2016 o Ministério das Finanças desenhou a medida, ela mereceu reticências da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD), alertando que a medida afecta “seriamente a vida privada dos cidadãos” e “abala decisivamente o sigilo bancário em relação ao Estado”. Foi já depois desse parecer que o Governo decidiu acolher algumas das recomendações da CNPD, não apenas das tais “medidas de segurança reforçadas” de protecção de dados, mas também ao "estender os deveres de sigilo a entidades ou pessoas subcontratadas pelas instituições financeiras reportantes” e “sujeitar à verificação prévia da CNPD a comunicação de dados a jurisdições que não apresentem garantias de protecção”.

A partir de Florença, Marcelo admitiu na quinta-feira que a objecção que o levou a vetar o diploma em Setembro de 2016 está “em princípio” ultrapassada, citou a Lusa. O novo diploma ainda não é conhecido, mas na altura, o Presidente da República fez questão de lembrar que o seu veto se devia “antes do mais” à “patente inoportunidade política” de apresentar a medida naquela época. Não deixou porém de lembrar as objecções da CNPD e as que foram “colocadas por variados quadrantes políticos e institucionais”, como por exemplo o facto de já existirem “numerosas situações” em que o fisco pode receber informação coberta pelo sigilo bancário “sem dependência de autorização judicial”, como acontece perante indícios de acréscimos de património injustificado.

https://www.publico.pt/2018/05/11/economia/noticia/fisco-comeca-a-receber-dados-sobre-saldo-das-contas-bancarias-em-2019-1829596/amp

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Bruxelas obriga governo a acabar com os descontos no ISP

 Comissão Europeia recomendou o fim dos descontos no imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos O ministro das Finanças garantiu que o Governo está a trabalhar numa solução para o fim dos descontos no imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP), recomendado pela Comissão Europeia, que não encareça os preços dos combustíveis. “Procuraremos momentos de redução dos preços, para poder reverter estes descontos”, afirmou o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que apresentou esta quinta-feira a proposta de Orçamento do Estado para 2026, em Lisboa. O governante apontou que esta questão é colocada pela Comissão Europeia desde 2023, tendo sido “o único reparo” que a instituição fez na avaliação do Programa Orçamental de Médio Prazo, em outubro do ano passado, e numa nova carta recebida em junho, a instar o Governo a acabar com os descontos no ISP. O ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, tinha já admitido "ajusta...