Cenário provável é o do plano cautelar, mas pode haver novo ajustamento. Ambos podem durar um ano ou mais e custar até 20 mil milhões ao ano
Existem, basicamente, três cenários possíveis a nível orçamental/financeiro para o chamado período “pós-troika”, na sequência da atual crise política. Um fantástico e ideal (Vítor Gaspar e a troika tinham razão e tudo dará certo), outro desejável e mais provável (o do plano cautelar, que trará novas medidas associadas) e um terceiro que implicará muito mais austeridade durante um ano ou dois.
Nestes dois últimos quadros, o conceito pós-troika será mais figura de estilo. Bruxelas, BCE e FMI continuarão a avaliar a par e passo o país.
1. O melhor cenário, mas quase improvável
O atual programa de ajustamento ‘termina’ em junho de 2014, com a troika a libertar em julho a 12ª tranche (2,6 mil milhões de euros) do empréstimo de 79,4 mil milhões (a preços atuais). Os partidos fazem as pazes, o país aprofunda o regresso aos mercados de dívida de médio e longo prazo, financia-se a taxas de juro decentes (na casa dos 4% ou menos é o admissível). Mesmo que o défice não esteja controlado por causa de uma eventual (nova)recessão, o que interessa é o défice estrutural (aquele que existiria caso não houvesse crise económica), portanto haverá mais margem de manobra no âmbito do cumprimento das metas do Pacto Orçamental europeu.
2. O cenário “desejável” e mais plausível
Um segundo resgate, mas no âmbito do plano cautelar defendido pelo Banco de Portugal. PSD, PS e CDS assinam um pacto de “salvação nacional” para os próximos oito anos ou mais, mas os juros ficam colados aos 6% ou 7%, valores considerados pouco razoáveis e insustentáveis.
O fundo europeu (Mecanismo Europeu de Estabilidade ou MEE), em ligação com a Comissão e o BCE, aciona uma linha de crédito, um mecanismo que permitirá ao MEE comprar dívida diretamente ao Tesouro (mercado primário). O plano dura, no mínimo, um ano podendo ser renovável por mais seis meses duas vezes. O valor que está a circular nas altas instâncias europeias aponta para uma verba na ordem dos 20 a 21 mil milhões de euros por ano (para Portugal poder pagar 14 mil milhões de euros aos credores e ainda financiar um défice de 7 mil milhões).
Anteontem, Cavaco Silva, o Presidente da República, apontou para 14 mil milhões de euros que terão de ser devolvidos aos credores em 2014. Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, sublinhou esta semana que se o Tesouro não conseguir ir normalmente ao mercado, em média, estará em risco a amortização de 14,5 mil milhões de euros em obrigações (ou o seu refinanciamento) entre 2014 e 2023.
São as duas legislaturas de que falou o banqueiro central.
O plano cautelar terá condições associadas. Em vez de tranches, o fundo europeu empresta dinheiro à República sempre que o Tesouro for ao mercado vender as suas obrigações, comprando-lhe (em princípio) metade da colocação de cada vez. Isto permitirá baixar as taxas de juro. Se não for suficiente, o BCE estará na retaguarda podendo ele próprio comprar no mercado secundário (OMT).
3. O pior cenário é um segundo ajustamento
Depois dos “enormes” sacrifícios, os juros não baixam, ficando na fronteira dos 7% ou mais. Um segundo programa implicaria um novo empréstimo, também na ordem dos 20 mil milhões de euros ao ano, que poderia prolongar-se por um ano ou dois. Teria a mesma filosofia do ‘resgate’ em curso. Libertação regular de tranches de financiamento, avaliações da troika, mais austeridade e insitência em muitas medidas dolorosas que não foram adiante ou foram suavizadas no atual programa.
Nos cenários 2 e 3, o FMI já não deverá entrar com dinheiro, mas continuará a desenhar políticas e a avaliar o país, juntamente com Bruxelas e BCE.
Em: http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO202200.html?page=0
Existem, basicamente, três cenários possíveis a nível orçamental/financeiro para o chamado período “pós-troika”, na sequência da atual crise política. Um fantástico e ideal (Vítor Gaspar e a troika tinham razão e tudo dará certo), outro desejável e mais provável (o do plano cautelar, que trará novas medidas associadas) e um terceiro que implicará muito mais austeridade durante um ano ou dois.
Nestes dois últimos quadros, o conceito pós-troika será mais figura de estilo. Bruxelas, BCE e FMI continuarão a avaliar a par e passo o país.
1. O melhor cenário, mas quase improvável
O atual programa de ajustamento ‘termina’ em junho de 2014, com a troika a libertar em julho a 12ª tranche (2,6 mil milhões de euros) do empréstimo de 79,4 mil milhões (a preços atuais). Os partidos fazem as pazes, o país aprofunda o regresso aos mercados de dívida de médio e longo prazo, financia-se a taxas de juro decentes (na casa dos 4% ou menos é o admissível). Mesmo que o défice não esteja controlado por causa de uma eventual (nova)recessão, o que interessa é o défice estrutural (aquele que existiria caso não houvesse crise económica), portanto haverá mais margem de manobra no âmbito do cumprimento das metas do Pacto Orçamental europeu.
2. O cenário “desejável” e mais plausível
Um segundo resgate, mas no âmbito do plano cautelar defendido pelo Banco de Portugal. PSD, PS e CDS assinam um pacto de “salvação nacional” para os próximos oito anos ou mais, mas os juros ficam colados aos 6% ou 7%, valores considerados pouco razoáveis e insustentáveis.
O fundo europeu (Mecanismo Europeu de Estabilidade ou MEE), em ligação com a Comissão e o BCE, aciona uma linha de crédito, um mecanismo que permitirá ao MEE comprar dívida diretamente ao Tesouro (mercado primário). O plano dura, no mínimo, um ano podendo ser renovável por mais seis meses duas vezes. O valor que está a circular nas altas instâncias europeias aponta para uma verba na ordem dos 20 a 21 mil milhões de euros por ano (para Portugal poder pagar 14 mil milhões de euros aos credores e ainda financiar um défice de 7 mil milhões).
Anteontem, Cavaco Silva, o Presidente da República, apontou para 14 mil milhões de euros que terão de ser devolvidos aos credores em 2014. Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, sublinhou esta semana que se o Tesouro não conseguir ir normalmente ao mercado, em média, estará em risco a amortização de 14,5 mil milhões de euros em obrigações (ou o seu refinanciamento) entre 2014 e 2023.
São as duas legislaturas de que falou o banqueiro central.
O plano cautelar terá condições associadas. Em vez de tranches, o fundo europeu empresta dinheiro à República sempre que o Tesouro for ao mercado vender as suas obrigações, comprando-lhe (em princípio) metade da colocação de cada vez. Isto permitirá baixar as taxas de juro. Se não for suficiente, o BCE estará na retaguarda podendo ele próprio comprar no mercado secundário (OMT).
3. O pior cenário é um segundo ajustamento
Depois dos “enormes” sacrifícios, os juros não baixam, ficando na fronteira dos 7% ou mais. Um segundo programa implicaria um novo empréstimo, também na ordem dos 20 mil milhões de euros ao ano, que poderia prolongar-se por um ano ou dois. Teria a mesma filosofia do ‘resgate’ em curso. Libertação regular de tranches de financiamento, avaliações da troika, mais austeridade e insitência em muitas medidas dolorosas que não foram adiante ou foram suavizadas no atual programa.
Nos cenários 2 e 3, o FMI já não deverá entrar com dinheiro, mas continuará a desenhar políticas e a avaliar o país, juntamente com Bruxelas e BCE.
Em: http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO202200.html?page=0
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