Avançar para o conteúdo principal

Milagre português explicado.

Combustíveis explicam dois terços do aumento das exportações este ano

Sucessos nas exportações podem não significar ganhos efectivos de competitividade das empresas NELSON GARRIDO

Sem os combustíveis, as exportações teriam crescido 1,5% e não 4,1% até Maio.

Mais de dois terços do crescimento das exportações de bens registado durante os primeiros cinco meses do ano é explicado pelo aumento da venda de combustíveis transformados em Portugal, algo que teve o contributo decisivo da entrada em funcionamento de uma nova unidade de refinação da Galp em Sines.

Os dados das exportações na primeira metade deste ano, em particular durante os meses de Abril e Maio, provocaram surpresa junto dos analistas e entusiasmo entre os membros do Governo. Com a economia europeia ainda em recessão, a Espanha em dificuldades e os principais mercados emergentes em forte abrandamento, o facto de Portugal conseguir apresentar um crescimento de 4,1% nas vendas de bens ao estrangeiro até Maio, com uma aceleração muito forte desde o início do segundo trimestre do ano, foi visto pelo Governo como um sinal de viragem na economia.

E, principalmente, foi visto como uma prova de que a aplicação do programa de ajustamento, com uma forte contracção salarial e várias reformas estruturais, está a produzir efeitos significativos na competitividade das empresas nacionais.

No entanto, pode ser precipitado, com base apenas nestes números, tirar conclusões sobre um efeito positivo imediato da redução salarial na competitividade das empresas portuguesas. O Banco de Portugal, no boletim económico de Verão, onde destacava os ganhos de quota de mercado conseguidos recentemente por Portugal e onde se revia em alta a estimativa de crescimento económico deste ano por causa das exportações, deixou desde logo um aviso: "Para esta evolução favorável da quota de mercado deverá contribuir de forma assinalável a exportação de bens energéticos, em parte associada ao aumento da capacidade instalada de refinação."

De facto, olhando para os números das exportações de bens apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística para os primeiros cinco meses do ano, salta à vista o impacto que os combustíveis estão a ter no crescimento das vendas realizadas ao estrangeiro.

Até Maio, as exportações cresceram, face a igual período do ano passado, 790 milhões de euros. Deste valor, mais de dois terços, 532 milhões, resultaram do aumento das exportações de combustíveis transformados, que dispararam 34,7% face ao ano anterior.

Isto significa, por exemplo que, se não se considerasse os combustíveis para as contas globais, as exportações teriam crescido, não 4,1% até Maio, mas apenas 1,5%.

E a verdade é que o aumento tão forte das exportações de combustíveis dificilmente pode ser explicado por ganhos de competitividade resultantes de reduções salariais ou alterações da legislação laboral.

As principais razões são dadas pela empresa que tem sido decisiva para este resultado. A Galp investiu, durante o ano passado, cerca de 1400 milhões de euros numa nova unidade de refinação em Sines. Este novo equipamento permite um muito maior aproveitamento da matéria-prima, o que resulta numa produção bastante mais elevada de gasóleo. Como o mercado interno está em queda, este acréscimo de produção é todo destinado para as exportações.

Conforme explicou fonte oficial da empresa ao PÚBLICO, a nova unidade está em funcionamento desde o início deste ano e entrou em "velocidade de cruzeiro" precisamente no segundo trimestre deste ano, o período em que as exportações de combustíveis (e como consequência o total das exportações) mais cresceram.

Na Galp, durante os últimos anos, o acréscimo de produção para exportação tem vindo a aumentar, à medida a que se assiste a uma quebra muito acentuada da procura interna. Até ao início deste ano, o produto exportado era quase só a gasolina (que teve uma maior quebra de consumo em Portugal), que se destinava principalmente aos mercados dos EUA e México. Agora, com mais gasóleo a ser encaminhado para o estrangeiro, a Espanha tornou-se um cliente importante.

Isto também explica por que é que o principal cliente das exportações portuguesas, em crise grave, está a registar este ano um aumento das compras a Portugal.


Em: http://www.publico.pt/economia/jornal/combustiveis-explicam-dois-tercos-do-aumento-das-exportacoes-este-ano-26848634

Comentários

Notícias mais vistas:

Constância e Caima

  Fomos visitar Luís Vaz de Camões a Constância, ver a foz do Zêzere, e descobrimos que do outro lado do arvoredo estava escondida a Caima, Indústria de Celulose. https://www.youtube.com/watch?v=w4L07iwnI0M&list=PL7htBtEOa_bqy09z5TK-EW_D447F0qH1L&index=16

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...

TAP: quo vadis?

 É um erro estratégico abismal decidir subvencionar uma vez mais a TAP e afirmar que essa é a única solução para garantir a conectividade e o emprego na aviação, hotelaria e turismo no país. É mentira! Nos últimos 20 anos assistiu-se à falência de inúmeras companhias aéreas. 11 de Setembro, SARS, preço do petróleo, crise financeira, guerras e concorrência das companhias de baixo custo, entre tantos outros fatores externos, serviram de pano de fundo para algo que faz parte das vicissitudes de qualquer empresa: má gestão e falta de liquidez para enfrentar a mudança. Concentremo-nos em três casos europeus recentes de companhias ditas “de bandeira” que fecharam as portas e no que, de facto, aconteceu. Poucos meses após a falência da Swissair, em 2001, constatou-se um fenómeno curioso: um número elevado de salões de beleza (manicure, pedicure, cabeleireiros) abriram igualmente falência. A razão é simples, mas só mais tarde seria compreendida: muitos desses salões sustentavam-se das assi...