Avançar para o conteúdo principal

Corte planeado na despesa não é a reforma do Estado

Economistas defendem que cortes não podem ser cegos e arbitrários, mas decorrer de opções ideológicas

Manuela Ferreira Leite diz que a reforma do Estado não é algo «que se decrete de um dia para o outro», nem se «resume a um corte de despesas».

A antiga ministra das Finanças considerou ainda que «estão sempre criadas todas as condições sociais e políticas para a reforma, desde que haja capacidade para compromissos entre as diferentes soluções», afirmou aos jornalistas, à margem da Conferência «Processo da Reforma do Estado ¿ O Estado Social e o Crescimento Económico», promovida pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP).

«Estamos numa fase complexa da vida financeira, económica e de crescimento do país, todos aqueles aspetos que possam contribuir para a solução destes problemas são oportunos e tem que haver compromissos para a concretização desses objetivos», sublinhou.

Dito isto, a economista defende, citada pela Lusa, que o debate justifica uma discussão «aprofundada», não pode ficar refém de um «guião» e quando se evoca a proposta de reforma do Estado que deveria estar concluída a 15 de julho, «está-se a falar de despesa e a reforma do Estado não é isso. Isso não tem a ver com a reforma do Estado».

Ferreira Leite, defende mesmo que muitos dos aspetos que neste momento se traduzem apenas em corte de despesa «têm a ver com alterações estruturais do funcionamento da nossa economia, do Estado e da nossa sociedade», pelo que devem ser encarados com ponderação.

Onde cortar?

Em contrapartida, acrescentou a ministra das Finanças no Governo de Durão Barroso, «nos debates que temos ouvido ainda não se abordaram temas como as questões que aqui foram levantadas», como sejam a reforma da administração pública, mas também outras relacionadas com a «organização administrativa do Estado, com empresas públicas, com empresas municipais, com autarquias, com rendas excessivas».

No mesmo sentido, Suzana Toscano, antiga secretária de Estado da Administração Pública, e oradora no mesmo evento, alertou para uma reforma das funções do Estado que destrua os «parâmetros de progresso» e, portanto, de «competitividade», alcançados pelo país em resposta às exigências da União Europeia e OCDE, os espaços económicos e políticos a que aderiu e em relação aos quais se comprometeu.

«Muitas das políticas» que hoje traduzem o nosso Estado, acrescentou Toscano, «não resultaram só de opções ideológicas», mas sim «da nossa integração no espaço europeu», onde estão definidos parâmetros de progresso» com os quais o país se comprometeu, e em relação aos quais não pode agora «eximir-se de responsabilidades», porque «são fatores de competitividade».

«Cortar por cortar torna qualquer reforma indiferente», sublinhou a ex-ministra da Educação socialista, Maria de Lurdes Rodrigues, defendendo que «a diminuição do Estado não nos permitira resolver a maior dos problemas estruturais» do país, que, para a antiga governante, é o das desigualdades sociais.

Uma reforma a olhar unicamente para a despesa, «para além de nos afastar do modelo social europeu, não resolveria os nossos problemas estruturais», sublinhou.

Há 18% do PIB em despesa pública descontrolada

Luís Valadares Tavares apelou ao respeito pela Administração Pública e defendeu que o Estado pode ser mais eficiente e mais barato «com melhores governantes» e investindo na melhoria das «competências governativas».

O especialista em administração pública chamou ainda a atenção para o facto de o Estado ter diminuído fortemente a despesa pública, muito à custa da diminuição da massa salarial das administrações, mas paralelamente aumenta a despesa na contratação de bens e serviços, uma rubrica que ascende quase a 20 mil milhões de euros, cerca de 12% do Produto Interno Bruto.

Se a esta realidade se juntar o «mistério» das transferências para os Fundos e Serviços Autónomos do Estado, há um «total de 18% do PIB em despesa pública descontrolado» e deveria ser para aí que uma reforma do Estado deveria começar por olhar.


em: http://www.tvi24.iol.pt/economia---economia/ferreira-leite-manuela-ferreira-leite-reforma-do-estado-despesa-corte-de-despesa-economistas/1468538-6377.html


Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

As obras "faraónicas" e os contratos públicos

  Apesar da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, e das dúvidas sobre a sustentabilidade da economia portuguesa em cenário de quase estagnação na Europa, o Governo mantém na agenda um mega pacote de obras faraónicas.  A obra que vai ficar mais cara ao país é, precisamente, a da construção de uma nova rede de alta velocidade ferroviária cujos contornos não se entendem, a não ser que seja para encher os bolsos a alguns à custa do contribuinte e da competitividade. Veja o vídeo e saiba tudo em: As obras "faraónicas" e os contratos públicos - SIC Notícias

Franceses prometem investir "dezenas de milhões" na indústria naval nacional se a marinha portuguesa comprar fragatas

  Se Portugal optar pelas fragatas francesas de nova geração, a construtora compromete-se a investir dezenas de milhões de euros na modernização do Arsenal do Alfeite e a canalizar uma fatia relevante do contrato diretamente para a economia e indústria nacional, exatamente uma das prioridades já assumidas pelo ministro da Defesa, Nuno Melo Intensifica-se a "luta" entre empresas de defesa para fornecer a próxima geração de fragatas da marinha portuguesa. A empresa francesa Naval Group anunciou esta terça-feira um plano que promete transformar a indústria naval nacional com o investimento de "dezenas de milhões de euros" para criar um  hub  industrial no Alfeite, caso o governo português opter por comprar as fragatas de nova geração do fabricante francês. "O Naval Group apresentou às autoridades portuguesas uma proposta para investir os montantes necessários, estimados em dezenas de milhões de euros, para modernizar o Arsenal do Alfeite e criar um polo industrial...